ELEIÇÕES NA UFPI: COMO NA DITADURA MILITAR
POR VALÉRIA SILVA*
Por mais que as ideias pareçam antigas, por mais que as palavras pareçam surradas, como alguns vivem a acusar, a dura realidade político-acadêmica da UFPI nos obriga a repeti-las: precisamos nos manter na luta por uma universidade pública, gratuita, democrática, transparente, ética e de qualidade. Diremos o porquê.
No dia 22.03.2012 o Conselho Universitário-CONSUN decidiu que as eleições para Reitor daquela IFES serão indiretas. O próximo Reitor – conforme decidido – será escolhido a partir de uma lista tríplice apontada pelo CONSUN, após registro burocrático de candidaturas no Serviço de Protocolo da UFPI. Propaga o Reitor em toda a imprensa que, democraticamente, deixará às ‘entidades universitárias’ a condução da consulta à comunidade acadêmica. A situação exige que expliquemos o que foi feito, de fato. O leitor incauto poderia pensar: “Que mal há em a histórica ADUFPI, o valoroso SINTUFPI e o combativo DCE realizar a consulta?”. Nenhum. Acontece que ao se referir às ‘entidades’ o Reitor está tratando fundamentalmente de um ‘sindicato docente’ sem qualquer representatividade, opositor da ADUFPI, recém-criado por ele próprio e seus apaniguados, com o único fim de desvirtuar e manipular a eleição.
Utilizando-se de entulho legal que fere de morte a autonomia universitária - tão bem disciplinada pela Constituição Federal no seu no Art. 207 - e oblitera o Regimento da UFPI o Reitor, na verdade, diz não à vontade da comunidade universitária. Diz não à votação livre e válida de estudantes, de professores e de servidores. Diz não ao debate de ideais, à discussão política em sala de aula e nos corredores. Completa asfixia!
Do ponto de vista da (baixa) estratégia política utilizada o gesto pode significar tanto um golpe contra a disputa livre entre as duas chapas já declaradas (a do Reitor e a outra encabeçada pelo seu ex-aliado), quanto um artifício para manter os candidatos do Reitor (inclusive, os não declarados) a ele obedientes até o momento último da decisão pelo CONSUN, hoje lamentavelmente controlado, de joelhos. De uma maneira ou de outra - ou de ambas - no nosso modo de ver, o 22 de março ficará na história da UFPI como o dia do mergulho final da sua já moralmente enxovalhada Administração Superior na barbárie política. O dia em que o grande CONSUN declinou de sua condição de órgão colegiado, ente vivo da política universitária, espaço de exercício democrático das divergências ao patético papel de apêndice da vontade do Reitor. O dia em que a maioria dos conselheiros daquele órgão (Diretores de Centro e de Campi, representantes docentes, doutores etc) se esqueceram da sua condição primeira de docentes, formadores dos jovens que ingressam na UFPI, trabalhadores da EDUCAÇÃO, responsáveis pela condução da maior e mais importante instituição de ensino do Piauí. Como pequenos títeres utilizaram-se do poder mesquinho para satisfazer o chefe, a fim de conquistar algumas migalhas do banquete imundo. Como lição acadêmica, uma lástima. Repetindo o que já dissemos certa vez: este caso só Étienne de La Boéti explica, com sua brilhante reflexão acerca da servidão voluntária.
Para quem chegou há menos tempo na UFPI, lembramos: esse fato só encontra paralelo no ano de 1984 quando, pelo mesmo artifício, o nome eleito do Pe. Raimundo José foi deposto e o nome de Nathan Portella foi guindado à Reitoria, pelo Conselho. Naquele dia lutamos todos e todas, enfrentamos todos os obstáculos e ali conquistamos (até agora) o direito de escolher o nosso Reitor. Eis que retornamos ao mesmo lugar, como nos velhos tempos da ditadura, por obra e graça dos encastelados hodiernos, parceiros de gigantesca sandice ético-política. Pelo ato perpetrado, definitivamente, nós ufpianos, co-partícipes de tantas mudanças do mundo e do país, somos empurrados a andar para trás.
A gravidade deste momento reforça o que temos repetido ad nauseam: estamos diante da maior ofensiva de desmonte da institucionalidade já vista na UFPI. Seguindo convencidos disso por todos esses sete anos, nunca negociamos com os ‘donos do butim’, nunca cedemos ao canto da sereia, nunca coadunamos em montar planos de achaques a ex-companheiros, tomados como opositores da ordem pelos que se arvoram donos dos tempos, dos espaços, dos corações e das mentes. Tomara esse evento ser suficiente para que entendamos a radicalidade da problemática que enfrentamos: a Reitoria não observa limites no intento firme de esmagar a tudo e a todos. Assim, não houve/não há espaço para tergiversação, acordos, meios termos no trato com a Administração Superior. Claro esteja de uma vez por todas.
Hoje mais do que nunca somos chamados pela história a reiterar a defesa da autonomia universitária e do respeito ao regimento da UFPI. A lutar pela UFPI pública, gratuita, democrática, transparente, ética e de qualidade. A seguir livres, defendendo a UFPI grandiosa para nossos filhos, nossos netos e quem mais vier, porque a UFPI é nossa; não do Reitor e de seus ridículos chefetes.
*Valéria Silva é Drª. em Sociologia Política. Professora permanente do Programa de Pós-Graduação em Sociologia-UFPI e do Programa de Pós-Graduação em Antropologia e Arqueologia-UFPI.
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